Para entender o que aconteceu a ela, é preciso olhar para trás. Letícia estava de férias em maio do ano passado, com bastante pique e tempo livre. Em uma página pessoal, escreveu que se continuasse naquele ritmo de pegação, chegaria a cem homens em um ano. O comentário rendeu e ela levou o desafio a sério. A ilustre anônima chamou atenção porque era uma mulher normal, não mais uma prostituta com diário virtual. Não cobrava pelos encontros e soltava o verbo na internet depois. Formada em direito e jornalismo, Letícia queria ser sexualmente livre.
Ela conhecia os caras nos mesmos lugares comuns, mas era bem mais direta que a média das mulheres. “Sou gorda e fora dos padrões de beleza”, diz. “Mas adoro flertar, atiro para todos os lados”. Letícia ia para cama sem contar do seu projeto secreto. No dia seguinte, colocava no ar a descrição da transa em detalhes. Da pegada ao gemido, das gafes aos absurdos. Nua e crua, Letícia não floreava nada em seus posts. “Na vida real, nem todo homem fica de pau duro e nem toda mulher, lubrificada”, diz. Por exemplo, ela fugiu do moço que lhe pediu para defecar durante o sexo e se decepcionou com outro que brochou no ménage a trois. Confessou até que um cara desistiu do oral alegando que ela estava com pêlos compridos e um odor desagradável. Em poucos meses, o blog alcançou centenas de milhares de visitantes por dia. Mas a autora parou de relatar seus causos no número 30.
Letícia diz ter cansado da cobrança dos leitores para que chegasse ao centésimo. E as agressões virtuais ficaram pesadas demais. À medida que sua identidade foi descoberta, ela também quis proteger os homens com quem saía. “Se me vissem com alguém e depois lessem uma história no blog, poderiam associar as duas coisas. Estava expondo quem não queria se expor.” Mesmo assim, Letícia continuou sua brincadeira. Usou e abusou, consensualmente, de quem bem entendesse. Com medo de que a família descobrisse sua vida dupla, contou ela mesma. “Temia que me achassem piranha”, diz. “Mas, de fato, é o que eu sou mesmo.” Ainda assim, Letícia não abre espaço para culpa e discursos moralistas.
A blogueira perdeu a virgindade aos 15 anos e teve alguns namorados possessivos, mas jura que a “brincadeira dos cem homens” não tem nada a ver com decepções amorosas. “A monogamia não serve para mim”.
No final de 2011, Letícia conheceu um leitor do blog e se apaixonou. O casal ficou junto por dois meses, em uma relação aberta. Mas a mulher bem-resolvida levou um pé na bunda. Entrou em depressão. Com ajuda dos leitores, que diariamente mandavam dúvidas e pediam conselhos sexuais, ela mudou seu projeto. Há dois meses, criou o site CEM+1, com conteúdo informativo e opinitivo sobre sexo. A jornalista não conta com quantos homens Letícia, sua personagem, se deitou. Mas não se arrepende de nada. “Ela trouxe muita diversão a minha vida sexual”, diz.
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